Estamos em plena celebração do Jubileu da Misericórdia. O Ano Jubilar teve seu início em 8 de dezembro de 2015, Solenidade da Imaculada Conceição, e se encerrará em 20 de novembro deste ano, na Festa de Cristo Rei. Além das celebrações litúrgicas, a peregrinação e a passagem pela Porta Santa para lucrar as Indulgências, o papa Francisco nos propõe uma profunda reflexão sobre o que seja a misericórdia de Deus e a atitude misericordiosa que devemos ter para com todos, em especial, para com os mais pobres e necessitados.
É preciso compreender que a misericórdia de Deus é algo abrangente, não está ligado somente ao perdão dos pecados, mas, principalmente, ao cuidado que Deus tem para com seus filhos e filhas. Nesse sentido, a parábola da ovelha perdida é bastante elucidativa: O pastor do rebanho, revestido de profundos sentimentos de misericórdia, deixa as 99 ovelhas e vai em busca da ovelha que se perdeu. Ao encontrá-la, alegra-se, toma-a em seus braços, cura suas feridas (Lc 15,3-7).
Deus cuida de nós! Quer que estejamos sempre próximos Dele; faz de tudo para que seus filhos e filhas se sintam felizes, realizados e tenham vida em abundância (Jo 10,10). E quando, porventura, afastamo-nos Dele, não espera passivamente nossa volta, Ele mesmo se adianta em vir ao nosso encontro, procura a todo custo realizar essa reaproximação. Se Deus nos trata assim com tanto carinho, como não viver também em atitude misericordiosa para com os irmãos? Amar e agir com misericórdia não é uma opção para o cristão, não é algo sugestivo, mas imperativo: “Sede misericordiosos como vosso Pai que está no céu é misericordioso” (Lc 6,36).
A misericórdia, não apenas como dado de fé, mas principalmente como atitude fundamental, pode e deve ser vivida por todos os cristãos, mas principalmente pelos Ministros Ordenados, aqueles que são chamados por Deus a exercer o ofício da misericórdia divina junto a seus irmãos (sacramento da reconciliação).
Por isso, o vocacionado ao ministério deve entender que foi alvo do “toque divino”, do cuidado de Deus que congrega junto de si colaboradores para a construção do Reino de Deus. Aquele que tem essa clara consciência do chamado, percebe que vocação é fruto do dom gratuito de Deus, do amor generoso e misericordioso para com os seus. Não tem nada a ver com santidade, méritos, capacidades e dons pessoais. Aliás, numa vocação autêntica, o jovem geralmente se sente bastante impotente diante das muitas demandas e exigências do ministério. Será que serei capaz? Será que conseguirei desempenhar bem esse ministério? O jovem vocacionado também sabe que não é melhor do que ninguém, percebe-se cercado de muitas limitações e misérias como qualquer outro ser humano.
Outro elemento fundamental que deve estar presente na vida do jovem vocacionado é o desejo de agir com misericórdia junto aos seus irmãos. Possuindo ou podendo vir a possuir esse desejo, o jovem se prontifica a agir como Jesus acolhendo a todos, principalmente os mais necessitados, os doentes, pobres e pecadores. Sendo alvo da misericórdia divina, ele deseja agir da mesma forma, tendo muita paciência e compreensão, atenção, atitudes de carinho e acolhida para com aqueles que procuram o auxílio divino por sua mediação. Nesse sentido o vocacionado é, ao mesmo tempo, objeto e agente da misericórdia.
“Misericordiosos como o Pai”! Seja essa nossa atitude, seja essa nossa vocação e missão na Igreja e no mundo!
Pe. Paulo Sergio Carlos
Reitor do Seminário Propedêutico Imaculada Conceição