“Eu te constituí como luz das nações para levares a salvação até os confins da terra” (At 13,47)
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Baixinho, rico, pecador, de Jericó

Publicado em 28 de outubro de 2016 - 13:44:03

 Jericó, uma das cidades mais antigas do mundo, pode ser vista como um símbolo para nossa aventura de fé. Foi conquistada pelos hinos de um povo vindo do deserto, conduzido pela voz de Josué (Cf. Js 1,1-6,27). As informações davam conta de gigantes que habitavam na região! No entanto, o medo foi vencido! Ali habitava gente de toda qualidade. A porta foi aberta por nada menos do que uma prostituta, Raab! A fita escarlate foi certamente dependurada na história de muitas pessoas que se deixaram envolver pela salvação que chegou para muitas "jericós" da vida.

Em Jericó, Jesus encontra Zaqueu, baixinho, publicano, pecador público! Muitos problemas para a vida de uma pessoa. E lá na baixeza de Jericó, na vizinhança do paganismo, uma cidade uma vez votada à destruição, com ruínas em seu entorno até os dias de hoje, este homem procurava Deus! Talvez nem soubesse bem o que incomodava seu coração, mas procurava! Em sua história estão todas as muitas histórias, nas quais também os nossos problemas se encaixam.

Muito peso sobre os ombros de uma só pessoa, Zaqueu! Jericó era cidade de má fama, tanto que "descer para Jericó" (Cf. Lc 10, 25-37) significava descambar pelo mau caminho. Ser baixinho até hoje pode ser motivo de bullying, palavra em moda para caracterizar as ações dos valentões ainda de plantão nas escolas e na sociedade. E Zaqueu era publicano, pecador público, vendido aos Romanos para recolher impostos nas áreas ocupadas. Sua riqueza suscitava grande desconfiança, justamente pelas suspeitas geradas graças à desproporção entre o trabalho e a renda auferida. Aqui e nos outros pontos com os quais começamos a reflexão, a atualidade é significativa!

Vivemos neste mundo, com tantos e crescentes desafios. Passa o tempo e Deus concedeu à sua Igreja o Papa Francisco. Na oração do Angelus do dia 3 de Novembro de 2013, assim introduziu-nos em Jericó, com palavras que considero verdadeira pérola:

"Jesus que, em seu caminho rumo a Jerusalém, entra na cidade de Jericó. Esta é a última etapa de uma viagem que resume em si o sentido de toda a vida de Jesus, dedicada a procurar e salvar as ovelhas perdidas da casa de Israel. Mas quanto mais no caminho se aproxima da meta, mais em torno de Jesus se forma um círculo de hostilidade. No entanto, em Jericó, acontece um dos eventos mais alegres narrados por São Lucas: a conversão de Zaqueu. Este homem é uma ovelha perdida, é desprezado, é um ’excomungado’, porque é um publicano, antes, é o chefe dos cobradores de impostos da cidade, amigo dos odiados ocupantes romanos, é um ladrão e um explorador. Bela figura, não é? É assim. Impedido de aproximar-se de Jesus, provavelmente por motivo de sua má fama, e sendo baixo de estatura, Zaqueu sobe em uma árvore para poder ver o Mestre que passa. Este gesto exterior, um pouco ridículo, exprime, porém, o ato interior do homem que procura colocar-se sobre a multidão para ter um contato com Jesus. O próprio Zaqueu não sabe o sentido profundo de seu gesto; não sabe por que faz isto, mas o faz; nem sequer ousa esperar que possa ser superada a distância que o separa do Senhor. Conforma-se em vê-lo somente de passagem. Mas Jesus, quando chega próximo àquela árvore, chama-o pelo nome: ’Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa’ (Lc 19, 5). Aquele homem baixo de estatura, rejeitado por todos e distante de Jesus é como que perdido no anonimato; mas Jesus o chama, e aquele nome Zaqueu, nas línguas daquele tempo, tem um belo significado cheio de alusões: ’Zaqueu’ (Lc 19, 9) de fato quer dizer ’Deus recorda’. É bonito: ’Deus recorda’. E Jesus vai àquela casa de Zaqueu, suscitando as críticas de todo o povo de Jericó. Porque também naquele tempo se fofocava muito, não é? E o povo dizia: ’Mas como? Com todas as boas pessoas que há na cidade, vai hospedar-se justamente na casa de um publicano?’ Sim, porque ele estava perdido; e Jesus diz: ’Hoje entrou a salvação nesta casa, porque também este é filho de Abraão’. Na casa de Zaqueu, a partir daquele dia, entrou a alegria, entrou a paz, entrou a salvação, entrou Jesus. Não existe profissão ou condição social, não há pecado ou crime de qualquer gênero que possa cancelar da memória e do coração de Deus um filho sequer. ’Deus recorda sempre’, não esquece nenhum daqueles que criou. Ele é Pai, sempre à espera vigilante e amorosa de ver renascer no coração do filho o desejo de retornar à casa. E quando reconhece este desejo, mesmo que manifestado com tanta simplicidade, e tantas vezes quase inconsciente, imediatamente põe-se a seu lado, e com o seu perdão lhe torna mais leve o caminho da conversão e do retorno. Mas olhemos para Zaqueu hoje na árvore: é ridículo, mas é um gesto de salvação. E eu digo a você: se você tem um peso na consciência, se você tem vergonha de tantas coisas que cometeu, pare um pouco, não se desespere, pense naquele que o espera, porque nunca deixou de se lembrar de você, de pensar em você. E este é o seu Pai, é Deus. É Jesus que o espera! Suba, como fez Zaqueu; suba na árvore da vontade de ser perdoado. Eu lhe asseguro que não se decepcionará. Jesus é misericordioso e nunca se cansa de perdoar. Lembre-se bem, sim? Assim é Jesus. Deixemo-nos também nós sermos chamados pelo nome por Jesus! No fundo do coração, escutemos a sua voz que nos diz: ’Hoje devo ficar em sua casa; eu quero ficar na sua casa e no seu coração’, isso é, na sua vida. E vamos acolhê-lo com alegria: Ele pode mudar-nos, pode transformar o nosso coração de pedra em coração de carne, pode livrar-nos do egoísmo e fazer da nossa vida um dom de amor. Jesus pode fazê-lo. Deixe-se olhar por Jesus".

Caiam todas as desculpas esfarrapadas que nos impedem de aproximar-nos de Deus, de sua Igreja, dos Sacramentos. A Igreja é a nossa casa e Deus quer fazer de nosso coração a sua casa. Descubramos, neste verdadeiro vendaval de graças que é o Ano Jubilar da Misericórdia, os caminhos e atalhos que nos conduzem a Jesus, ou, mais ainda, que nos mostram o Senhor Misericordioso que vem a nós.

Rezemos: "Ó Deus, que com a vinda de vosso Filho trouxestes a salvação à casa de Zaqueu, concedei que não se percam os que se afastaram de vós, mas voltem ao bom caminho, purificados pelo Sangue de Cristo" (Missa de Jericó, Missas votivas para a Terra Santa).

Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém do Pará

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