O segundo Domingo da quaresma nos situa no monte Tabor onde Jesus se transfigura diante de Pedro, Tiago e João, sendo confirmado e reconhecido pelo Pai como seu Filho amado. Marcos destaca a incompreensão dos três e a instrução de Jesus de não contarem para ninguém o que tinham experimentado, a pedagogia do segredo messiânico. A experiência de encontro com Deus nos arrebata e nos transforma, mas é necessário torná-la caminho de conversão e inspiração para uma vida nova.
Por isso, no Agir da Campanha da Fraternidade deste ano, que busca a superação da violência, se propõe a espiritualidade da paz como o grande meio de curar e libertar-nos da cegueira da ira e do ódio, que alimentam, sem cessar, a espiral da guerra e desarmonia social. Só com um coração desarmado e humilde, que transpareça a misericórdia e a ternura do Pai, seremos capazes de reconciliar e aproximar as pessoas divididas e em profunda discórdia.
Espiritualidade que desperta a bondade e a confiança, possibilitando a recriação de vínculos e a reconstrução da convivência. Investindo sempre na escuta cordial e empática, iluminada pela Palavra e o silêncio orante, abriremos canais de comunicação, desativando os atavismos e as armadilhas da discriminação e da intolerância. Testemunhando a firmeza inquebrantável de quem acredita na força moral da Verdade, da não violência, e do amor exigente que nunca larga de mão ninguém, considerando-o perdido ou irrecuperável.
Gerando, pelo diálogo generoso e amplo para com todos/as, espaços para a cultura do encontro, da partilha, da convivialidade, que respeita e quer um mundo habitável, hospitaleiro, e seguro para simplesmente viver em Paz. Como enuncia a Declaração de Sevilha, não é científico nem correto afirmar que somos violentos por natureza e estamos condenados a repetirmos comportamentos destrutivos; na verdade, a violência é um construto cultural que pode ser vencido e superado.
Na Cruz, que não é derrota nem fraqueza, mas esperança e solidariedade, encontramos o caminho da reconciliação, perdão e da justiça de Deus, nascedouro e fonte da cultura da Paz, e da civilização do amor e da ternura. Que o Deus da Vida e da Infinita Misericórdia, nos permita sermos servidores e instrumentos da caridade fraterna que tudo compreende, suporta, e espera com paciência e compaixão. Deus seja louvado!
Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)